Frances Ha é um filme sobre a crise do que existe sem poder seguir e do que seguirá, sem ainda existir. A crise, aqui, é resgatada simbolicamente na passagem da juventude à vida adulta e corresponde ao constrangimento do desejo diante da inevitabilidade do real. Tudo feito com um sorriso no rosto, de modo que o tolhimento das ambições se confunda com a normalidade e a normalidade com a felicidade. Mas, e isso importa muito, o desejo segue, submerso, e aparece nas frestas do espaço e do tempo, aparece no olhar entre as amigas.
Trata-se do discurso americano diante das múltiplas possibilidades que enxergaram na primeira eleição de Obama e mais recentemente no movimento occupy, que não redundaram nas profundas transformações que pareciam anunciar. Os EUA enxergam com certa melancolia e pessimismo a emergência dos novos movimentos de transformação social, política e econômica ao redor do mundo. Que tem a ver com a incapacidade de dar vazão ao que estas transformações pareciam suscitar também ali e com o deslocamento do eixo da produção das referências simbólicas que ordenam a vida. Por certo, Frances Ha não trata de nada disso, mas carrega o espirito de seu tempo, um tempo social, político e econômico.
O retrato vivo do espirito de seu tempo me parece ser a grande força do filme, por meio da naturalidade que parece emanar de cada uma das cenas. Um filme que é antes de mais nada vivo, que retrata um punhado de instantes que parecem de fato estarem lá quando os vemos.
Contudo, e esta me parece uma distinção importante com a filmografia destes anos, o real, ainda que inevitável, não é total, ele constrange o desejo, mas não o anula. Há de se reconhecer as frestas no real, que permitem ver que há mais do que apenas o que existe, uma certa reserva de tudo que é imponderável.
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