Parece-me um filme sobre a nostalgia do passado e a resignação do presente. Gil é o retrato de certo escapismo em tempos de crise, aqui uma crise do espírito, da incompletude dos tempos modernos. De modo que é detalhe ou conseqüência a crise de viés matrimonial. É muitíssimo mais feliz que “Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos”, é certo, mas não parece superar a melancolia. Proclama-se a gloria do passado, mas ao fim resta se resignar com as insuficiências do presente. Não é possível girar a roda do tempo em sentido inverso e por isso sobra procurar a felicidade no presente.
Há ainda a família frívola e direitista sobre o protagonista. Uma imagem de Allen sobre a sociedade americana, à qual o diretor não parece reconhecer nenhuma esperança sob os quase quatro anos do governo Obama. Os tons são da soberba pré-crise e do ultradireitismo do Tea Party. Não por acaso Inez se encanta com o intelectualismo de gabinete de Paul, não parece haver maiores contradições entre um e outro. Parece-me que esse “intelectual” típico representa certo fetiche da intelectualidade, voltado às citações e ao conhecimento enciclopédico, representa os mesmo traços de superficialidade de Inez. Gil representa o oposto, um conhecimento vivo, voltado e baseado na experiência do real.
De resto, é esperança demais numa Europa e numa França que vem soterrando a civilização sob a lama da ganância desmedida e do fascismo reciclado.
Olá Felipe. Bem lembrado a questão do ultradireitismo. Só que não achei o filme tão melancólico assim. Acho que acontece uma inversão ao longo do filme, no qual a noção de engajamento ao presente ganha força. Enfim, também acho melhor que o anterior. Talvez, um dos melhores dos filmes mais recentes. Um abraço. Leandro
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