segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Bom Retiro 958 Metros

Volto aos trancos e barrancos...


Bom Retiro 958 Metros é uma peça, por óbvio, sobre o Bom Retiro, mas sobretudo de sua extração presente. O passado, na figura da noiva, é um fantasma, deslocado, por deslocada estarem suas referências. Não parece que assombre o presente, assombra apenas a si, mas é translucido, esmaecido, marcado nas passagens do bairro, mas sem que chegue a ser uma presença. O deslocamento, a alienação em relação ao resto da peça, me parecem marcar uma cisão, uma descontinuidade entre o passado e o presente.

Os consumidores e os cracômanos me parecem representar igualmente a compulsão pelo consumo, embora o traço óbvio de identidade entre uns e outros não pareça marcado na peça. Mesmo a abordagem dos cracômanos pela chave do consumo me parece mais acidental. Contudo, me parece que os cracômanos representem uma tendência ainda mais extremista daquela também representada pelos consumidores, talvez a repulsa seja pelo que têm de familiar, não de estranho. São a essência do capitalismo, sem o seu verniz civilizatório.

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