sexta-feira, 13 de maio de 2011

Sobre Higienópolis

Que a burguesia quatrocentona de Higienópolis pensa o que pensa é inevitável e me parece estar longe de ser chocante, na verdade chego a achar bastante natural. O chocante é que mesmo hoje eles se sintam a vontade de dizer o que pensam. De certo é ainda mais chocante que o governo do estado de São Paulo ceda a tais argumentos e passe a estudar outros pontos das redondezas para instalar a futura estação do metrô.

Que senhoras e senhores se sintam livres pra dizer que ‎"É porque eu acho Higienópolis um bairro tão mais tradicional, não acho que seria legal assim vir esse povão e esse monte de gente pra cá, o que pode trazer mais problema de segurança, assalto, não sei, e também porque eu não acho legal mesmo, opinião minha" é um escândalo. É característica não só de um punhado de elitistas, mas de todo uma sociedade elitista. Pensaram que este tipo de argumento era muito razoável e que todas e todos concordariam com eles. Tinham a expectativa de uma sociedade elitista que os corroborasse.

A burguesia quatrocentona de Higienópolis deve ser constrangida. Que estas senhoras e senhores pensem as barbaridades que pensam é coisa inevitável. Que eles se sintam constrangidos a dizer o que pensam é quesito de uma sociedade democrática.

O churrascão é um ato de civilidade contra o cacarecos de um passado autoritário. Não se trata de criminalizar a riqueza, ainda que muitos ricos sejam criminosos, mas de constranger um comportamento absolutamente antidemocrático. O direito à cidade não deve ser delimitado geograficamente ou sofrer qualquer tipo de restrição socioeconômica.

Os moradores de Higienópolis contrários ao metrô temem que a obra descaracterize o bairro. Num bairro onde o elitismo parece ser característica fundamental a descaracterização é imprescindível.

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