quarta-feira, 11 de maio de 2011

A Revolução Árabe

A revolução árabe triunfou. Há certo risco em declarar o veredicto de um processo que segue aberto e em desenvolvimento. Ressalvo que a declaração de vitória não elimina a possibilidade de retrocessos, todo processo histórico está aberto a avanços e retrocessos. De modo que a eventualidade da contrarrevolução não deve inibir a audácia da afirmação.

É certo que toda revolução mobiliza elementos objetivos e subjetivos. Concretamente caíram Ben Ali e Mubarak. Subjetivamente se provou que é possível vencer, que as ditaduras e monarquias árabes não são eternas no tempo. Este é um elemento poderoso. Todos os processos árabes se desenvolvem sob esse signo. Os revolucionários e os contrarrevolucionários tem isso em mente, certamente.

Há uma série de outros elementos que podemos agregar à análise. A crise econômica de 2008 que se arrasta até hoje, a crise do imperialismo estadunidense e europeu, a nuvem especulativa que engalfinhou o mercado de commodities alimentícias etc. Esse palco é fundamental para o desenrolar da peça, mas a sineta só tocou nos outros países depois que Ben Ali caiu. É certo que os processos, a resistência, nos demais países remonta desde antes, mas mesmos os mais entusiasmados opositores egípcios não imaginavam derrubar Mubarak quando chamaram os primeiros atos. Mesmo no Egito os acontecimentos foram adiante sob o fantasma da queda de Ben Ali, aos outros processos se somou a queda de Mubarak.

Também por esse motivo o processo Líbio é central. Ali se luta pela vitória da revolução líbia e pela continuidade da revolução árabe. Assim como a revolução tunisiana alterou as expectativas das populações árabes, a derrota da revolução líbia também o fará.

Cito o seguinte "Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado" (Marx) e "As Revoluções são impossíveis até que se tornem inevitáveis" (Trotsky). Não basta a vontade, o novo ímpeto árabe não teria guarida em outra conjuntura, mas tão pouco esta teria bastado sem a conjuração de um novo estado de espírito. As maiores das expectativas hoje são as menores. Não importa o tamanho das concessões econômicas, amplas parcelas hoje só aceitam negociar mediante a queda dos ditadores e monarcas.

Contudo, estas, de um modo ou de outro, são causas fundamentais de porque aconteceram as revoluções. Por sua vez, os processos vitoriosos também demandam explicações, que podem jogar luz nos processos que ainda não triunfaram. O ímpeto, até agora não pareceu suficiente para derrotar as ditaduras da Líbia, Síria, Iêmen, Bahreim, Argélia e Marrocos. A ausência de uma tradição operária, ainda que pela eliminação física dessa tradição, me parece pesar sobre todos esses processos. Lembremos que os operários tunisianos e as greves no Egito tiveram papel fundamental na queda de Ben Ali e Mubarak, respectivamente.

Diante do posto volto a afirmar, a revolução árabe triunfou. Derrubou dois ditadores, minou os interesses do  imperialismo estadunidense e europeu, fundou uma nova tradição de lutas e provou que tudo é possível. Provar que tudo é possível é o fundamental.

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