Sob a justificativa do humor e da crítica do politicamente correto Rafinha Bastos diz "Toda mulher que eu vejo na rua reclamando que foi estuprada é feia pra caralho.", ao que segue "Tá reclamando do quê? Deveria dar graças a Deus. Isso pra você não foi um crime, e sim uma oportunidade.". Que tenta o humor e crítica o politicamente correto é certo, o que de modo algum é mérito ou algum tipo de atenuante. Além da indignidade do comentário, o dito é crime. Que não seja tratado como crime e sim como questão menor, aberta ao debate, é indício do machismo e da misoginia da população brasileira.
Não me parece que o humor ou qualquer manifestação cultural esteja aberta à mais livre manifestação. Não me parece que ninguém esteja livre, dentro do contexto de qualquer manifestação cultural, para dizer que mulheres deveriam se conformarem com estupros. Mesmo a ironia deve reconhecer os limites da dignidade humana. Rafinha Bastos transige esses limite em benefício do conservadorismo. Nega às mulheres o direito ao próprio corpo e à sexualidade, os submete ao homem. Na prática afirma que as mulheres deveriam se dar por satisfeitas em seres desejadas, desde um ponto heteronormativo. Às que não se encaixam nos padrões de beleza socialmente construídos deveria satisfazer com qualquer tipo de desejo, mesmo o violento e a contragosto. Sob esse ponto de vista o corpo da mulher está a serviço do homem, de modo que não há crime em qualquer tipo de uso.
Não há atenuantes ou justificativas para o que foi dito.
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