terça-feira, 21 de junho de 2011

Sobre a crise do Oriente à Europa


Parece-me haver dois fatos notáveis nos eventos que cobriram de novidade a conjuntura política do norte da África, Oriente Médio e agora Europa, o intercionalismo das lutas em desenvolvimento e a desarticulação do capitalismo na resposta à crise, a bem da verdade trata-se da irracionalidade do capitalismo para responder à crise.

Os protestos árabes seguiram uma rota do norte da África ao Oriente Médio, ligando conjunturas similares, mas distintas, como há muito tempo não acontecia. Não falo em solidariedade internacional, mas de levantes inspirados uns nos outros. Por evidente, são processos que remontam a décadas de mobilização e construção política, que, contudo, amadureceram em poucos dias diante dos fatos novos. Turquia abriu a porta dos novos tempos e o Egito se transformou num exemplo a toda prova.

A maré revolucionária chegou ao menos até Espanha e Grécia, esta com uma jornada de manifestações já em curso, mas renovada pelo método dos indignados, em tudo inspirado na juventude árabe. Disso se trata esse internacionalismo renovado.

Analisemos a situação grega para entendermos do que se trata a irracionalidade do capital. A dívida grega é um emaranhado de relações objetivas e subjetivas. Temos o Banco Central Europeu, associado a um punhado de países da UE e um bocado de rentistas privados, como credores gregos, de forma que estão diretamente implicados num eventual calote. Portugal e Irlanda são rascunhos da tragédia grega, até o momento, para os quais o calote grego pode dar os traços finais, ao que seguirá problemas gregos, como diria Godard.

Contudo, os capitalistas europeus são destemidos e enfrentam o abismo de peito aberto. Colocam a faca no pescoço da Grécia e exigem “a bolsa ou a vida”, dos quais os gregos, a essa altura, parecem poder oferecer apenas a segunda. Não dão um passo atrás nos juros e nos prazos e sugerem que a Grécia faça mais um furo no cinto e aperte ele um pouco mais. Outra “opção” grega seria negar a santidade do euro e tirar as prensas de dracma dos depósitos, ao que arrastará consigo a confiabilidade da UE.

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